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Transformar os sonhos em realidade ou tornar a realidade num sonho?
Transformar os sonhos em realidade ou tornar a realidade num sonho?
By Tiago Forjaz
Abril 29, 2025

Para mim, o sonho é a vida, o meu mundo.

Para mim, o sonho é a zona onde o consciente conversa com o inconsciente, é uma mímica onde nenhum fala a língua do outro, onde só há lugar para uma aprendizagem interrompida pela luz do dia.

Somos treinados, enquanto crianças, a lidar com os sonhos… não pensamos muito nisso… mas enquanto crianças, dormimos muito mais do que na idade adulta.

É durante o sono que ocorre o estado natural que leva à criatividade. Acredito que é nesse sono que esboçamos quem somos.

O que é difícil é lidar com a realidade, ninguém nos explica isso, enquanto nos sonhos há uma sabedoria emocional, e todos nos lembramos do que sentimos; as palavras da realidade são escassas para descrever o que sonhamos. E faz sentido, porque não há memória de quem seremos!

Ser um Chief Dream Officer é descobrir e interpretar esse caminho, é estar atento à oportunidade e ao oportunismo. É deixar permanentemente de lado a vontade, e seguir o que nos é sugerido. É usar a intuição para encontrar um pedaço de sonho solto no acaso, que nos pode servir para transformar a realidade.

Tive muitos sonhos, todos maiores do que os que sonhava acordado. Queria ser realizador de cinema, mas acabei por descobrir a minha vocação. Esta epifania foi-me oferecida, por já ser minha, por um sábio. Foi ele que me fez perceber que ser um Diretor de Pessoas é mais interessante do que ser um Realizador de Cinema.

No fundo, as pessoas são reais, e é mais difícil, é mais complexo fazê-las confiar na sua luz do que encorajá-las a adormecer no mundo acordado.

A realidade é um monólogo ensaiado, onde as pessoas dizem as mesmas coisas. Eu vejo o Real como o Caminho e o Sonho como o Destino. Não me lembro dos sonhos que realizei, mas tenho sempre perto de mim o que quero interpretar.

Quero descobrir-me, quero a minha curiosidade, ligar-me aos outros e sincronizar sonhos. Em francês, a palavra “rêve” vem de “rever”, que significa tentar de novo. Em castelhano, a palavra “vive” está próxima do conceito de ociosidade. Hoje sei que só compreendemos os negócios quando compreendemos o ócio. Os sonhos são feitos de ideias soltas que precisamos de remendar, enquanto a realidade é feita de pistas para as encaixarmos.

Não sei se a nossa missão é realizar sonhos porque não há nada mais real do que o sonho. Talvez a nossa missão seja discernir dessa realidade as peças que queremos para interpretar quem somos.

 

Não sei como é que os sonhos se realizam; prefiro transformar a realidade num sonho.

Os sonhos sempre me aconteceram quando me libertei dos meus desejos, quando me concentrei em acreditar. Talvez por isso o sonho esteja tão ligado ao conceito de fé e de espiritualidade.

Só à noite é que nos sincronizamos em silêncio.

É no nosso silêncio, é na nossa inação que tudo acontece, é onde tudo começa.

Sobre o Sonho, Fernando Pessoa disse:

“Ninguém se cansa de sonhar porque sonhar é esquecer, e o esquecimento não pesa, é um sono sem sonhos em que estamos acordados.”

“Para realizar um sonho, é preciso esquecê-lo, desviar a atenção dele. Portanto, realizar não é realizar.”

“Matar o sonho é matarmo-nos a nós próprios. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de verdade, inexpugnável e inexoravelmente nosso.”

Então, para mim, sonhar é descobrir quem somos.

E eu… quero fazer de mim próprio.

Discurso a apresentar no Fórum Alpha do IADE a 12 de dezembro de 2015

(Agradeço à Universidade Europeia a sorte do convite e agradeço a oportunidade de ter feito esta reflexão)

 

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